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Ilha do Sal

Sal, lugar de opostos, as areias douradas e as águas cristalinas opõem-se às paisagens áridas e à terra infértil, os hotéis à beira mar cheios de turistas opõem-se à vida difícil de pescador e às barracas de Terra Boa. Ainda que reinem neste lugar a paz e a tranquilidade, a vida do povo está longe de ser fácil.
Num lugar como a ilha do Sal, uma ilha pequena, com poucas atracções turísticas é difícil fugir à vida de lontra de comer, dormir e preguiçar. Ainda assim, pode-se contornar um pouco esse tipo de férias e sair à descoberta os lugares, das gentes, da comida e da morabeza cabo-verdiana.
A morabeza está para os cabo-verdianos como a saudade está para os portugueses, não se explica, sente-se. A morabeza está na filosofia de vida dos cabo-verdianos, muito própria das pessoas descontraídas, amáveis, disponíveis e alegres.

Sal, uma das ilhas mais próximas do continente africano, é uma das 10 ilhas de origem vulcânica do arquipélago de Cabo Verde, composto ainda por:

  • Santo Antão (ilha da aguardente e do mel);
  • São Vicente (ilha do porto grande);
  • Santa Luzia (a única inabitada por falta de água e a mais pequena de todas);
  • São Nicolau (a ilha da interculturalidade);
  • Boavista (ilha das Dunas que tem a maior praia do arquipélago, a praia de Santa Mónica);
  • Maio;
  • Brava (ilha das flores);
  • Fogo (a ilha do vulcão, com o ponto mais alto e o melhor café do arquipélago);
  • Santiago (a ilha mais africana, capital administrativa, mais emblemática e mais histórica que todas as outras).

A ilha do Sal, com 216km2 e 27 mil habitantes, começou por se chamar Lhana, pela sua terra plana, mais tarde ganhou o nome de Sal, devido à indústria que aí se desenvolveu. Numa terra infértil, pequena mas com extensas praias de areia branca transportada pelos ventos a partir do deserto do Saara e bom tempo durante todo o ano é natural que o turismo seja a principal actividade económica da ilha, sector onde trabalha grande parte da população da ilha que apesar de viver em Espargos, trabalha em Santa Maria, onde se situam os hotéis. A moeda oficial é o escudo cabo-verdiano, foi giro voltar a usar escudos, ainda que cabo-verdianos. Ouvir falar crioulo é fantástico, dá vontade de aprender.
Aterrámos no Aeroporto Internacional Amilcar Cabral ao final da tarde de 21 de Setembro. Em Cabo Verde são menos duas horas que em Portugal, no Verão. O transfer para o hotel já estava à nossa espera, numa ilha com 30km de comprimento e 12 km de largura foi um instante enquanto nos deixaram no hotel. Ficámos no Hotel Oasis Belorizonte, em Santa Maria, um hotel antigo, ligeiramente confuso ao início (foi preciso mapa para me orientar lá dentro), com três piscinas à disposição (duas delas de água salgada), praia à porta e três restaurantes. Nessa noite jantámos no Buffet no Restaurante Santa Maria à beira de uma das piscinas. Fizémos o reconhecimento do hotel e provámos o grogue, a famosa aguardente de cana cabo-verdiana, a bebida típica.
Esta viagem foi pensada em cima da hora, pelo que não houve muito tempo para a planear e resolvemos recorrer a uma agência de viagens. Neste modelo há sempre um guia local que vem ao hotel apresentar as possibilidades de passeio disponíveis pela agência local. Na manhã seguinte lá estava o guia da Morabitur para nos fazer recomendações e apresentar as opções.
Nessa manhã pudémos finalmente passear pela beira mar, com o mar a molhar-nos os pés. A temperatura da água é óptima, dá vontade de entrar no mar e nadar sem parar. Fomos ainda dar um passeio por Santa Maria para conhecer melhor as redondezas do hotel, contactar com as pessoas, conhecemos o pontão onde chegam os barcos da pesca e onde se estendem as redes. Apesar de podermos usufruir de Tudo Incluído no hotel, gostamos de almoçar em restaurantes locais e por isso mesmo, depois do passeio por Santa Maria, acabámos a almoçar num restaurante à beira mar, o D’Ancela, onde comemos um belo polvo à cabo verdiano e lagosta (mas só porque não tinham cachupa).
Nesta zona turística existem muitos senegaleses, Cabo Verde fica a cerca de 450km da costa senegalesa. Ora os senegaleses estão em Cabo Verde para fazer negócio, tentam vender aos turistas tudo o que é recordação de Cabo Verde e são bastante insistentes. Não são perigosos mas não largam os turistas, insistem até à exaustão, até levarem o turista a comprar-lhes alguma coisa. Claro que estas compras são sempre alvo de regateio, os preços que eles apresentam já estão a contar com isso, é cultural. Foi depois de muito regatear que acabei por comprar um quadro para a sala e trazer outro de oferta.
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Porto antigo

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Primeiro hotel da ilha do Sal, Hotel Morabeza, visto do lado da praia

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Bengalows do Hotel Oasis Belorizonte

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A água do mar é assim azul celeste como se vê nas fotografias, no entanto quando o Sol se esconde assume uma tonalidade mais sombria. O Sol é muito forte e, seja na praia ou a passear pela rua, o protector solar deve ser o nosso melhor amigo.
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Na ilha do Sal tivémos ainda oportunidade de fazer uma viagem de catamaran ao largo da ilha. Uns escassos metros separavam o hotel onde estávamos do pontão onde iríamos apanhar o barco nessa tarde. À hora marcada lá estávamos a aguardar que o barco estivesse pronto. Enquanto esperávamos pelos companheiros de viagem que chegariam no entretanto, metemos conversa com dois miúdos que ali estavam no pontão a brincar. A liberdade de brincar assim na rua sem supervisão de adultos é coisa que já não se vê por cá, nem mesmo nas aldeias, como aquela onde cresci com a liberdade de sair de casa para brincar cuja única obrigação era regressar antes de anoitecer. Perguntei-lhes o que faziam ali, se não deviam estar na escola, responderam-me que já tinham ido à escola de manhã. Fiquei a achar que não me estavam a dizer a verdade.
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Passámos três horas a navegar à vela e ainda que não tenhamos visto os tão apregoados golfinhos, navegar à vela num mar com uma pequena agitação, com música ao vivo a bordo, deu-nos uma sensação de calma, liberdade e felicidade que não se descreve, sente-se. Só quem não consegue viver sem ter o mar por perto percebe este sentimento que o mar nos confere.
Ao largo da ilha está afundado o Bolama, um cargueiro português que ali afundou em 1920, bateu no recife e ali acabou por ficar a 4 metros de profundidade, um óptimo spot para fazer mergulho.
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No final da viagem passámos ao largo do antigo porto onde está submersa uma estátua do Cristo Rei para protecção dos pescadores. Nesse local ainda houve hipótese de fazer snorkling (convém levar o equipamento) apesar do mar estar demasiado turvo para se ver com clareza. Regressámos ao fim da tarde quando o pontão se enchia de gente que pouco mais faziam que aproveitar o sol de fim de tarde.
No dia seguinte fomos dar uma volta à ilha, integrados num grupo de turistas. A visita começou em Espargos, a capital administativa da ilha, que deve o seu nome às plantações de espargos que aí existiam. Em Cabo Verde, 90% da população é católica, pelo que é natural encontrarmos igrejas, como a Igreja de Santo António em Espargos. Nesta cidade visitámos ainda a Biblioteca e o mercado da fruta e dos legumes.
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A bandeira de Cabo Verde, aqui pintada numa casa, foi adoptada a 13 de Janeiro de 1992. O azul representa o mar e o céu, o branco simboliza a paz e o vermelho representa o esforço na luta pela independência e desenvolvimento do país. As 10 estrelas simbolizam as 10 ilhas do arquipélago.
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Em Espargos visitámos o mercado de verduras, tudo o que está nestas bancas é nacional, apesar de vir de outras ilhas mais produtivas pois com o clima quente e seco e solo árido da ilha do Sal é difícil cultivar o que quer que seja. Os legumes são pequenos e feios pois não usam fertilizantes, é tudo natural e o gosto compensa o que falta à vista.
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O maior herói nacional é Amilcar Cabral, filho de pai cabo-verdiano e mãe guineense, o rosto da luta pela independência da Guiné e Cabo Verde.
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Jogo do Uril, jogo muito apreciado em Cabo Verde, jogado essencialmente por homens

Palmeira foi a paragem seguinte, é uma pequena vila piscatória que deve o seu nome ao único pé de palmeira que existia na ilha. É aqui que se situa o maior porto da ilha.
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Peixe voador acabado de pescar

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A paragem seguinte foi em Buracona, um dos pontos mais turísticos da ilha, um conjunto de piscinas naturais de rocha basáltica, na costa ocidental da ilha, e um buraco nas rochas com a passagem do mar por baixo que, com a incidência do sol se assemelha a um olho azul.
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No caminho de Buracona para Terra Boa vimos vários montes (Monte de Leste – 263m e Monte Grande – 463m) que se erguem da terra plana, são as saídas dos vulcões que deram origem à ilha.
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A miragem de Terra Boa é outra das atracções turísticas da ilha do Sal, provocada pelas ondas de calor que se acentuam naquela zona.
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É em Terra Boa que fica o bairro mais pobre da ilha onde moram as pessoas que não têm possibilidades para alugar uma casa ou construir. No caminho acabámos por dar boleia a um grupo de crianças que seguiam a pé para a escola.
A Escola Secundária Olavo Moniz é a única escola secundária da ilha, quem quiser e puder continuar a estudar tem de sair da ilha e mudar-se para São Vicente ou Santiago. A escolaridade obrigatória é até ao 6º ano, sendo que a taxa de alfabetização da ilha é de cerca de 80%.
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A última paragem da volta à ilha foi nas salinas, em Pedra de Lume onde a entrada custa 5€. Foi aqui que a ilha começou a ser povoada com população que veio da ilha da Boavista e de São Nicolau para trabalhar nas salinas. As salinas situam-se na cratera de um antigo vulcão onde a água tem 26 vezes mais sal que a água do mar. Os nativos garantem que quem ali se banhar rejuvenesce dez anos. Vale a pena tentar. Por 1€ podemos, no final do banho nas salinas, passar um chuveiro de água doce antes de ir embora.
Apesar da sua inactividade, as salinas ainda conservam alguns artefactos utilizados na extracção e transporte de sal. O sal era transportado para o porto através de um teleférico movido a petróleo que ainda hoje lá está, apesar de já não funcionar, com 1100 metros que transportava cerca de 25 toneladas de sal por hora. Na altura, vinham embarcações da América e trocavam produtos alimentícios e vestuário por sal.
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Durante a estadia na ilha do Sal é preciso ter alguns cuidados em atenção, cuidado com a zona de rebentação das ondas, cuidado com o sol especialmente no couro cabeludo, deve-se beber apenas água engarrafada e não é aconselhável meter gelo nas bebidas fora do hotel. Claro que é proibido ir embora de Cabo Verde sem provar a cachupa, por isso arranjem maneira de a provar.

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2 thoughts to “Ilha do Sal”

  1. boa tarde, vou viajar para a ilha do sal e gostava de levar algum material para entregar numa escola que precise. qual a escola que me aconselha a visitar? obrigada
    Cláudia

    1. Olá Cláudia, dos lugares que visitei acho que a zona de Terra Boa. Não sei para que escola vão aquelas crianças mas deverá ser ali perto uma vez que iam todas a pé. Pode por exemplo dirigir-se à Escola Secundária Olavo Moniz, que é a única secundária da ilha, e tentar perceber quais as escolas de ciclos inferiores precisam mais de material escolar, tenho a certeza que todas precisarão. Parabéns pelo acto e boa viagem.

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